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A crítica social escondida em “Barbie Girl”, o sucesso noventista do Aqua

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Entre 1990 e 1999, incontáveis foram as músicas que dominaram as rádios e fizeram o povo pular como se não houvesse amanhã. A década também foi símbolo master dos hits chiclete: aqueles que grudam na cabeça e, mesmo que sejam meio embaraçosos, a gente acaba cantando com a força de um hino.

Se você aí foi uma criança ou adolescente noventista, eu sei – pois é, sei mesmo – que você já cantou/dançou a grudentíssima “Barbie Girl”, sucesso da banda dinamarquesa Aqua. Em 1997, essa música tocava em todas as rádios, festas de família, auto-falantes do carro novo do parente, microsystem no ombro de quem quisesse ostentar, walkman dos adolescentes cheios de money etc. O sucesso foi tanto que a banda ficou conhecida mundialmente, e até mesmo levou um processo da Mattel (empresa responsável pela Barbie) por usar o nome da boneca em sua música. Só pra constar: a Mattel perdeu.

Talvez você nunca tenha prestado atenção na letra de Barbie Girl, mas se o clima do videoclipe é de uma brincadeira de crianças, a letra é a responsável por mostrar o que essa música tem de mais especial: uma crítica ácida à sociedade da perfeição.

Os anos 90 foram uma época de ouro na venda das bonecas Barbie, e elas acabaram se tornando o padrão feminino por excelência: cabelos louros e lisos, magras e com cinturinha fina. A padronização nociva do corpo e do comportamento feminino prejudicou muitas garotas naquela época e ainda hoje é entranhada na sociedade, tentando nos convencer de que qualquer desvio é condenável. Uma verdadeira questão de corra-para-se-adaptar-ou-morra-tentando.

Aí chega a vocalista Lene Nystrøm, cantando que “pode agir como uma estrela ou pode implorar de joelhos”. Numa letra irônica com trechos como “a vida em plástico é fantástica” e “você pode me despir em qualquer lugar”, Barbie Girl é a narração da boneca a respeito de como sua vida é incrível, sendo sempre um objeto comandado por terceiros. Para os olhares mais atentos, a Barbie do Aqua parece ser um eufemismo para o machismo e a opressão, que fazem da mulher um ser engessado em roupas coladas e provocantes, feita unicamente para os prazeres masculinos.

A problematização desses temas é (ainda bem!) ainda mais forte hoje em dia, mas a década de 90 também trouxe várias críticas em letras de músicas, como a empoderada “No Scrubs”, do trio TLC; também o caso de “Who Do You Think You Are?” das Spice Girls, que questiona a perda da essência das pessoas frente à fama; ou mesmo a brasileira “1406” dos Mamonas Assassinas, que no meio da brincadeira expõe a inflação alta do Brasil da época.

Voltando para o Aqua, a vocalista Lene confirmou, em uma entrevista concedida ao site News da Austrália, que o hit mais conhecido da banda teve, desde seu nascimento, um lado puxado fortemente para a crítica aos estereótipos que a sociedade impõe às garotas. Sendo a década de 90 o período em que as mentes começaram (aos pouquinhos) a se abrir, fica o alívio de saber que aquela música não era feita só pra dançar nas festinhas, afinal de contas.

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